SEM TÍTULO - Carla Cabral



Quando você foi embora, prometeu de pés juntos que voltaria. Meu coraçãozinho, pobrezinho, apaixonadinho, agarrou-se a beiradinha de esperanças que você deixou e acreditou cegamente em cada palavra docinha que você sussurrou em meus ouvidos.
Então as noites passaram, e eu, sozinha, continuei agarrada àquela ilusão tão colorida de que lhe teria de volta. Ainda que a dor da tua ausência, de tão doída que é, não coubesse em mim, eu continuei a implorar para que esse amor não me deixasse; para que ele, ainda que insuportável, ficasse; para que pelo menos ele não desistisse.
Meu amor coitado, cansado de esperar, tentou fugir. Amor suicida. Queria morrer aqui, para renascer em outro encontro de olhar, no calor de outro suspiro, no açúcar de outro beijo. Mas eu não queria. Eu queria o teu corpo, o teu suspiro, o teu olhar e o teu beijo, ainda que às vezes amargo.
Mas você demora demais, meu bem. Meu sorriso agora já tem outros motivos, meu abraço já tem outros braços, meu beijo já tem outro gosto.
O nosso amor? Tá ainda aqui, tá ainda pendurado na pontinha do coração. Não se preocupe, ele não cai nunca. Ele só cansou de ser grande, pois de tão grande talvez não coubesse mais aqui dentro. A tua falta de coragem me impede de jogar meu amor aos ventos, de abrir o peito e mostrá-lo ao mundo.
Então ele míngua, fica pequenino, quase some, só para que assim continue vivo, pulsante e eterno, exatamente como prometi.
Lembra?

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Ps: Não confundam as coisas. Muito do que escrevo aqui é pura ficção, e qualquer semelhança com a realidade não passa de coincidência, ou mera inspiração (:

É, mas tem muitos que acham que é com a gente mesmo. As vezes até nos identificamos, em algumas coisas. Kakau

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