ENCANTAMENTO! - Angela Rocha

Às vezes, a gente nem sabe dizer o momento exato em que aquela pessoa passou a fazer parte do nosso universo. Só sabemos que nosso coração começou a bater diferente. E a nossa história muda. E tudo que parecia já escrito se apaga para começar ali uma nova história.

É um encantamento profundo por algo que ainda não se explica. E esse encantamento vem junto com uma intuição de que esse relacionamento é verdadeiro e apaixonante e que todos os pequenos gestos praticados, podem encher de sentido os nossos dias. Que todas as palavras ditas podem se transformar em prática diária. E passamos a viver com um brilho nos olhos, como quem tem alguma coisa maravilhosa a contar.

E aquela capacidade de nos deixar maravilhar e encantar que parecia nem existir, desabrocha plenamente. Parece até que caíram as escamas dos nossos olhos e aquele rosto ganha uma quantidade de contornos novos e sedutores que antes não tinha… Imediatamente, há como que uma intuição interior, um sexto sentido do coração, que nos diz que um novo caminho vai se abrir…

No início dessa descoberta maravilhosa e do quanto às coisas nos parecem novas, parece que redescobrimos o amor adolescente. Aquele da escola, quando o menino mais lindo nos deu atenção e a gente volta por todo o caminho de casa, sem deixar de pensar nele. E a vida parece adquirir outro gosto. E somos surpreendidos a cada instante pelo mistério desse novo sentimento, dessa nova descoberta.

O encantamento e a surpresa são os primeiros laços da sedução… E toda a revelação que se acolhe em nosso íntimo, faz nosso espírito rejubilar e nos faz intuir que a nossa vida só vai melhorar se nos deixarmos conquistar.

Infelizmente, a maior parte das pessoas nunca passa por isso. Talvez por falta de “ouvir falar” de como era bom e, também, por falta de atenção e disponibilidade interior. O que é uma pena, porque enquanto a gente não deixar que essa pessoa especial cruze conosco de maneira a surpreender-nos, nos faça parar maravilhados e nos dê uma vontade incontrolável de perguntar: “Onde moras?”, nunca teremos verdadeiros motivos para segui-lo! Então, com muita facilidade, o que seria uma vida repleta de aprendizado, se transforma num sem fim de dias sem objetivo. E tudo em que podemos pensar é em nossos próprios projetos e tarefas. Solitários.

Mas quando nos encantamos… Ah! Aí tudo muda! Quando temos o privilégio de encontrar esse amor inesperado e, às vezes, até imerecido por nós, então desabrocha no nosso íntimo, ao mesmo tempo, uma paz inexplicável e uma vontade enorme de continuar a descobrir seus segredos. Aí, sentimos de verdade a nossa vocação. Sentimos o “para que” viemos e do que somos feitos.

Sim, porque é disso mesmo que se trata a vocação. De se fazer a experiência de penetrar nos segredos do outro, que iluminam os segredos de nossa própria vida. E é encantador… permanentemente encantador! No princípio, a gente nem se dá conta, mas a experiência do encanto é exatamente começar a penetrar nela e a adivinhar a beleza que nos espera…

(Adaptação de texto de Ruy Santiago)

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