AMOR E ROMANTISMO - Manoel Nogueira


O romantismo é uma corrente, um estilo de pensar, que nos vêm desde Gonçalves Dias, e exalta o amor, o sofrimento e a dor do “homem romântico” - “Se se morre de amor”. Desde ali já se mostrava idealizado, além da realidade. Na canção popular essa tendência se manteve e teve seu auge nos anos 20 a 50, certamente devido ao rádio. Os grandes espetáculos nos cassinos, etc. No entanto, nas décadas de 60 e 70, houve uma revolução comportamental, uma tomada de posição do individuo, a valorização do interior individual. Já não cabia um amor romântico, mas sim um amor real, corpóreo, sensual. Isso começou a aparecer no cancioneiro popular e o que era “romântico”, perdeu força diante da expressividade material do desejo de liberdade. Já não fazia sentido “morrer de amor”, o amor é livre, não pode ser compreendido como um fim, ele é apenas um paliativo, um bálsamo na busca de um ideal maior: A liberdade individual!
O que alguns chamam de sentimentalismo, talvez seja o que eu chamo de exagero das emoções, e assim sendo, eu concordo que emoções são para sentir! No entanto, que mal há em que a razão compreenda essas emoções?
O Romantismo é apenas um termo, um rótulo. A emoção é sentida tanto hoje, como há dez mil anos atrás... Sua expressão é que sofreu modificações estéticas, culturais, etc! Portanto, a canção de hoje não é desprovida de emoção, ela apenas não está carregada com o exagero, o acréscimo ideológico do romantismo. Dessa forma, o “amor” nas canções atuais, transparece sem alegorias, sem metáforas, ele se revela em sua carnalidade, em sua realidade mais próxima da compreensão humana. Por isso aos que ainda se prendem a forma lírica e idealista do romantismo, essa expressão do amor parece mecanicista, materialista, mas, no meu ver, é apenas embotamento da visão, falta de abertura às novas abordagens sobre emoção.
O amor, como emoção humana, é o mesmo sempre. Faz parte da necessidade biológica, é o desejo sexual, mas como a moral (econômica?) não poderia permitir isso, resolveram inventar esse tal de amor romântico, fiel, preso a normas, fantasiado de emotividade excessiva.
Não é por isso que devamos cair no erro de dizer que a razão tornou o “amor” frio, transformou-o num ato puramente sexual, prazeroso, sem fim reprodutivo, apenas uma necessidade emocional. Longe disso o que aconteceu, na realidade, o amor se fez mais forte, mais humano. O amor perdeu as amarras morais, o condicionamento religioso, ganhou contornos mais emocionais ainda, instintivos. O amor é fundamental no que diz respeito à preservação da vida, da espécie. Amor é desejo, finalmente a humanidade chega próximo da compreensão de sua emoção mais significante, mais expressiva de sua natureza.
Não há porque criticar a razão. Não vejo no desejo de compreender o mundo de forma racional, realista, material, uma perda da qualidade das emoções, muito pelo contrário, essa compreensão racional possibilita o sentir sem medo, sem barreiras, sem impedimentos moralizantes inúteis. O relacionamento, o outro, é uma necessidade de sobrevivência e esses sentimentos exagerados não dizem respeito à completude postergada pelo homem, essa completude não é negada pela razão e sim pela impossibilidade do que a “emoção exagerada” pede.

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