QUANDO O AMOR NÃO VEM - Marcelo Quirino



Por que não encontro o amor da minha vida? Mas será que preciso de um?

Em outra oportunidade escrevi que os carentes não precisam de amor. Em outro texto, Entre Tapas e Beijos, que é um texto-base da entrevista que concedi à TV Brasil, abordei relações que só convivem entre tapas e beijos. Por hora nos deteremos aos solitários do amor.

Algumas pessoas parecem tem uma habilidade incrível para estarem sozinhas. Meses, anos, décadas. E nunca encontram um parceiro que julgam ideal. Chegam até a se deprimir com a solidão. Algumas encontram parceiros, mas os rechaçam por algum ou outro motivo por não passar no crivo.

O que está acontecendo com os homens? Dizem elas. E eles dizem: não há mulher séria mais? Que isso? Que frases são essas sem nexo? Como esses dois grupos que reclamam não se encontram?

O que impede esse encontro de amantes? Acabou a paixão neste século de liberação sexual? Pode ser que sim. Na época da repressão sexual poderia haver mais fatores que potencializavam o enamoramento, ou o casamento forçado por conveniência, mesmo sem amor, proporcionava uniões estáveis duradouras, pois se separara não estava na ordem do dia da sociedade do século XX.

Aliás, o sonho da mulher do século XX era ser dona-de-casa. Sim! Isso mesmo, por incrível que pareça, para algumas mulheres, essa ideia era fixa e até deprimia quem não conseguia se casar. Ou seja, tudo era direcionado para o encontro de um parceiro e para o casamento. Essa era a rota única para conferir processos de identidade.

Será que a mulher do século XXI é mais sonhadora e idealizadora e o homem deste século é mais mulherengo? Estamos mais intolerantes às imperfeições do outro? Estamos idealizando? Sonhando com o cavaleiro no cavalo branco? Querendo a mulher perfeita dona de casa, trabalhadora, que paga suas contas e que sabe amar direito? O incrível é que os solitários respondem não a essa pergunta e ainda estão solteiros mesmo assim.

 “Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.”
Clarice Lispector In Um Sopro de Vida


Acontece que com a liberalização da sociedade antes repressora e com a ampla liberdade escolha, estamos mais temerosos de amar. Porque se livres somos, livres escolhemos quem quisermos para amar e ou terminar de amar a qualquer hora. Somos intensos e nos protegemos contra essa intensidade através da cautela. Melhor só do que mal acompanhado, dizem.
Numa sociedade onde família era tudo, a pressão para manterem-se juntos cimentava o casamento e a união para torná-la estável. Hoje, uma outra mentalidade social atravessa o modo de ser atual. A carreira, os estudos, o trabalho parecem ter mais importância do que a vocação para ser sustentador de uma família ou dona-de-casa.

O eixo de direcionamento dos esforços mudou. E o que isso tem a ver? Torna o crivo da seleção possível e as pessoas se tornam mais solitárias. Alias, o tempo da família e da relação consomem o tempo produtivo. É melhor ser um do que dois, ou um que carrega o segundo nas costas. Isso explica tudo? Não sou simplório. Os fenômenos sociais como o da solidão em massa precisam de análises psicossociais mais aprofundadas e conseqüentes.

Muitos buscam o apaixonar-se, o clima, o inesperado, a química perfeita que nunca vem. Mas estão sempre fechados para o novo, sem abertura para as possibilidades e sem olhos para novas oportunidades. Para apaixonar-se, é preciso posicionar-se como um psicanalista: sempre à espera do inesperado, da surpresa. Para isso, só desprovido de preconceitos e de previsões limitantes da vivencia emocional. Livre-se disso tudo.

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