AMOR VERDADEIRO


É preciso de compreendamos que amor não se confunde com apego. A criatura que ama não prende, antes liberta o ser amado para que possa escolher seu próprio caminho. O amor não é físico, portanto não requer a presença dos entes queridos ao nosso lado, mas se contenta em vê-los bem e felizes. Essa é a maior felicidade de quem já aprendeu a amar: saber que aqueles a quem ama são felizes, ainda que distantes. Mas também é necessário entender que não devemos ser egoístas. O amor não exige exclusividades nem retribuições. Existe apenas porque alcançou o coração, sem que precisemos explicar essa existência. Assim, se experimentarmos o amor, não devemos querer que o ser amado somente a nós devote o seu afeto. O amor não tem limites e pode ser distribuído por tantos quantos forem aqueles que encontremos. Quanto mais o vivenciamos, mais o alimentamos, mais ele cresce e fortifica. É um erro supor que só podemos amar a uma única pessoa.

Não quero com isso dizer que devemos nos entregar a todos os que nos aparecem. Essa compreensão de amor nada mais é que uma tentativa frustrada de justificar nossa incapacidade de amar. Vou me referir, mais especificamente, ao amor entre homem e mulher. É possível, sim, um homem amar uma mulher e uma mulher amar esse homem e se dedicarem a esse amor com aparente exclusividade. Contudo, se esse amor é elevado, ele não será exclusivista, mas confiante. E essa confiança vai se exteriorizar na total ausência de cobranças e expectativas, um compreendendo e conformando-se com aquilo que o outro é capaz de oferecer.

Os que assim se amam já estão aptos a vivenciar o amor em diversas facetas. Sabem diferenciar o amor entre homem e mulher do amor entre pais e filhos, do amor entre irmãos e entre seus semelhantes, sejam eles amigos ou inimigos. A distinção, aqui, não é de intensidade, mas de possíveis formas sob as quais o amor pode se revelar. Não se ama mais ou menos alguém: ama-se de acordo com a posição que cada um ocupa no mundo e em nossas vidas.

Amar significa, sobretudo, compreender, na verdadeira acepção da palavra. Quem compreende aceita, não julga nem critica. A compreensão não se resume a mera aceitação da inteligência. Não compreende verdadeiramente aquele que friamente raciocina e percebe o resultado, mas que é incapaz de aceitá-lo. Assim, se alguém diz: “entendo seus motivos, mas isso é inadmissível”, em realidade não compreendeu. Entendeu o problema e sua resolução, mas não foi capaz de alcançar os motivos que levaram o outro a adotar aquela fórmula de conclusão.

Falemos agora da paixão.. Ela é fogo e, como tal, logo se extingue. É claro que pode haver paixão com amor, mas então ela será mero complemento de algo que é muito mais sublime, e não será elemento decisivo numa relação. Mas paixão consome, desgasta, enfraquece. Faz dos homens escravos de seus anseios e desejos, não permitindo que eles experimentem um sentimento mais firme. Sim, porque a paixão, embora muitas vezes seja real, no sentido de existir mesmo, é sempre frágil, e logo se consome. Assim, o sentimento que a paixão evoca, embora verdadeiro, não é sólido.

O mesmo se dá com a ilusão do poder. Quando alguém diz que ama apenas porque foi abandonado, ou porque não pode ter aquilo que deseja, costuma dizer que sofre por amor. Mas, em verdade, ninguém sofre por amor, eis que o amor jamais será causa de sofrimento. Quem assim age, apenas exacerba o orgulho e não se contenta em perder o que, na realidade, nunca possuiu. É preciso aprender que o amor não se coaduna com a posse. Não possuímos nada na vida, senão as boas ou más sementes que plantamos em nossos corações. Portanto, se algo ou alguém que você ama, seja um objeto, um animal ou uma pessoa, quiser ou tiver que sair da sua vida, não procure desculpas ou justificativas para retê-lo. Saber perder é excelsa forma de amar, pois consiste em renúncia ao ser amado em nome de um sentimento muito mais nobre, que é o respeito à liberdade de determinação de nossos semelhantes. Teremos então um amor incondicional.

Extraído do Livro Uma História de Ontem, pág 300, Mônica Castro - Ditado pelo espírito de Leonel

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