A GENTE FALA DE AMOR COMO SE ENTENDESSE - Daniel Bonvolento

“E até hoje ninguém conseguiu definir o que é o amor”

Não sei, meu bem. Não sei se digo que te amo agora ou quando isso acabar. Amor a gente sente quando está vivendo ou quando percebe o que foi? Se parar pra pensar, eu não sei o que é o amor. E aposto que você também não sabe. Como dizer que é amor ou que foi amor? Por comparação, por dimensionamento, por dedução, por impulso ou porque simplesmente bateu aquela vontade no peito e aquela alegria de te ver hoje cedo e eu decidi que é amor?

Mas veja bem, se eu disser que te amo em comparação a alguém que amei, eu não terei decidido que não a amei o suficiente ou que não foi amor? Então como eu vou poder ter certeza de que isso é amor? Isso tudo é muito confuso, meu bem.

Se eu disser que te amo porque eu nunca encontrei alguém tão legal e tão charmosa e tão bonita e tão boba e tão paciente e tão tão tão cheia de qualidades e defeitos que me fazem te amar cada dia mais, eu não estarei dizendo que o que temos hoje é amor e o que teremos amanhã vai ser outra coisa? Isso tudo é meio pequeno demais, meu bem.

Se eu disser que te amo porque acho que te amo, sem pensar demais em fatos e fotos, sem pensar em nada e apenas em como eu me sinto bem do teu lado e em como eu não poderia largar as suas mãos na rua e em como eu sinto ciúmes de qualquer cara que ponha os olhos em você e queira te tirar de mim, eu não estaria sendo leviano com os nossos corações? Isso tudo é difícil demais, meu bem.

Mas eu posso dizer que te amo porque te amo. Te amo e ponto final. Se não me pedir explicações e entender um pouco o que digo, fica tudo bem. A gente fala de amor como se soubesse o que isso significa. Ninguém sabe, meu bem. Amor é meio como a incógnita daquela equação de vestibular que a gente até sabe qual é, mas não consegue produzir o raciocínio correto para achá-la. Amor é meio que adulto que ainda acredita em Papai Noel e recebe presentes todos os anos de alguém que não se sabe quem. Amor é meio que recortar corações de papéis vermelhos e prender na capa do caderno sem ter um nome escrito dentro deles. Amor é meio mistério, meio certeza, meio “eu-não-sei-o-que-estou-fazendo”, meio “vai-ser-você-pra-sempre”. Amor é amor único, amor que se repete, amor que já foi embora e depois voltou, amor que se perdeu de vista e disse Adeus. Amor é tanta coisa e eu nunca consegui entender tanta coisa de uma só vez.

E as pessoas falam de amor como se fossem experts no assunto. Como se fosse uma palavra fácil de entender, fácil de sentir. Como se não houvesse nenhum apelo, nenhum mistério, nenhum erro ou variação de interpretação nisso tudo. Como se quando a gente ama, viesse junto um dicionário explicando tudo o que se precisa saber do valor dessas palavras. Um substantivo que se desdobra em verbo e pode se tornar uma arma letal pros corações desavisados. Amor é amar. E não é nada simples assim. Mas se você não fizer questão de entender, então deixa pra lá. Porque amor pode ser nós dois e definição nenhuma, menina.

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