MONÓLOGO - Wagner Lucas Teodoro


Um bom vinho, uma madrugada, uma boa música e poesia. O que mais querer? (Pausa. Suspiro. Pensamento. Saudade). Tenho a impressão de escutar um barulho. Será o amor chegando a minha casa? Não. Era só o barulho do vento lá fora. Aqui dentro, só há o silêncio. Um tórrido silêncio nessa casa vazia. Nessa altura da noite minha respiração parece ecoar com mais intensidade. Meus pensamentos, como sempre, divagam sem controle. E nada, nem o vinho, nem a música, nem a poesia parecem preencher o vazio que mora dentro de mim.
Outra música, mais vinho na taça. Agora ouço um bolero, enquanto relembro minha história. Gosto de manter para mim algumas coisas. Penso que livrar-se de pesos não quer dizer exterminá-los das fotografias. Impossível. Livrar-se de pesos é enterrar aquilo que pesa sobre os ombros. As fotografias ficam, só que sem pesos. E assim, elas permanecem: cada foto em um quadro formando um amontoado de objetos sem muita utilidade, mas que vira e mexe resolvo dar uma olhada para relembrar... Lembranças! Agora que tirei essas fotografias das paredes da sala principal de minha vida, passam a ocupar o quarto menor de meu inconsciente.
Não me desfaço delas. Não há como exterminar as lembranças. Há apenas como lidar melhor com tudo. E isso eu tenho aprendido à duras penas. Mas, como disse, prefiro manter cada fotografia. Sei que elas me recordam o que eu era. O que eu fui. O que eu passei. Fotografias me mostram o quanto evoluí nesse tempo. E como um bom vinho, como esse que agora bebo, fiquei melhor a cada dia passado. Eu não me desfaço dessas fotografias, pois elas me lembram quem sou! E permanecem guardadas, sem pó, encobertas com um lenço claro impermeável.
Outra boa música, mais vinho e mais poesia. O que mais querer? (Pausa. Suspiro. Uma fotografia. Saudade). Agora, me olho nesse espelho antigo. O mesmo que meus ancestrais olhavam. Olho profundamente dentro de meus olhos e contemplo esse fidalgo da poesia, da intensidade. Filho das horas de profunda angústia e espera, fortalecido pelos ventos da destruição que não foram capazes de arrastá-lo. Vencedor dos ataques da vida e das pessoas. Eu me olho com um novo olhar. Olho pra dentro. Reconheço-me. Valorizo-me. Cansei de brigar com esse cara. Agora tentarei manter com ele uma convivência profundamente amistosa, amando esse nobre rapaz vencedor da guerra do autoconhecimento.
E pra encerrar a noite, peço uma dança. Uma valsa apenas. A valsa das horas e das dores infindas. A valsa do amor às causas perdidas. A valsa que vão achar maluco quem dança, pois não serão capazes de ouvir a melodia. A valsa das perdidas ilusões. A valsa das lembranças, do passado superado e da saudade leve que se fez luz, levando pra longe qualquer treva e escuridão.

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